quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Chapada diamantina 2008/2009 por Rafael Lauris


O início

Tudo começou de uma forma não muito planejada, o importante companheiro Deo e seu conhecimento das trilhas da chapada não iria nos acompanhar, isto só me fez ficar em dúvida se conseguiríamos transpor o vale do paty, tinha muitas dúvidas, será que conseguirei orientar-me no desconhecido vale do paty? Como será que os marinheiros de primeira viagem Sandro e Ricardo reagiriam se algo desse errado no meio da trilha? Eles confiavam em mim, e eu? Confiava somente no bom senso de orientação que sempre tive más será que ele não falhará? Estas e outras perguntas me acompanharam durante todo percurso até Lençóis.


Lençóis


Chegando a Lençóis só alegria, conhecemos as cachoeiras próximas e o ribeirão do meio, planejamos fazer a trilha da cachoeira da fumaça por baixo, chegar ao vale do capão e de lá seguir para o vale do Paty. Porém não me senti confiante, pois fui alertado de muitos perigos nesta trilha, como por exemplo a possibilidade de montar acampamento somente em pontos já estabelecidos, partir para uma trilha desconhecida e ainda ter obrigação de chegar ao final do dia num determinado ponto em nada me agradou esta idéia, resolvi estudar outra rota e decidimos fazer a trilha Lençóis-Capão.


Lençóis-Capão


Acordamos 5 da manhã, prontos para enfrentar os 20km trilha, tomamos um leve café e partimos, enfrentamos logo de cara uma hora de ladeira, e logo começamos a ver a destruição das queimadas, todo o chão e árvores era só carvão. Avançamos ate um ponto em que a trilha simplesmente sumia devido à queimada, más eu sabia em que direção ir em direção ao Morrão e seguimos com dificuldade saltando fendas e comendo carvão, finalmente a vegetação começava a se recuperar tinha que achar a trilha pois, avançar na mata não dá. Eu sabia que a trilha estava em algum ponto mais acima ou abaixo então decidi primeiro descer e caso não encontrasse a trilha subir numa direção perpendicular a trilha pois assim com certeza iria encontrá-la, descemos e nada, subimos bastante até que avistamos um guia e seu grupo na trilha a algumas dezenas de metros de nós, alegres por estar novamente na trilha seguimos, e ao final do dia achamos um local ideal para acampar, próximo de um rio e livre de possíveis tromba d’água. Acampamos ali e fomos curtir o por do sol tomando banho de rio.
Chegou a hora de dormir, três pessoas numa barraca projetada para dois realmente era desconfortável e assim seria por mais uma semana...Na manha seguinte continuamos a trilha, a neblina era intensa, que dava um ar muito diferente e belo ao lugar, caminhamos por mais duas horas e chegamos ao vale do capão, o companheiro Ricardo ficou completamente eufórico gritando e pulando ao avistar os primeiros sinas de civilização, embora eu soubesse que o grande desafio ainda estava por vir compartilhei de sua alegria.




No vale do Capão


Aproveitamos o dia para comer decentemente descansar e conhecer a vila acampamos no camping Gorgulho o qual está recomendadíssimo.
Amanhece, estamos prontos para conhecer a famosa cachoeira da fumaça, nos orientamos com os nativos e ficamos sabendo que seria uma trilha curta de no máximo 4 hs fizemos a trilha no pique só para testar nosso condicionamento físico, a subida inicial é de matar, porém o restante da trilha é bem tranqüila, chegando ao topo da fumaça fico surpreso com tamanha beleza, já tinha visto várias fotos mas nada se comparava a viver aquele esplendor, aqueles respingos que são borrifados da cachoeira pelo vento, aquele visual do vale, o vento as nuvens é tudo tão indescritível...


“A sorte favorece os corajosos”


É chegada a hora, 60km de trilha Capão-Paty-Andaraí o meu atual El Dorado, portando somente um mapa, bússola e muita coragem vamos em frente, as dúvidas persistem e a vontade de vencer é ainda maior. Caminhamos aproximadamente uma hora ate chegar à entrada da trilha, avançamos algumas horas trilha adentro e ao chegar num córrego nos deparamos com um grupo, três andarilhos Claudinho, Grillo e Ró, conversamos alguns minutos e eles nos alertaram de algumas “pegadinhas” da trilha e logo ofereceram uma carona, aceitamos prontamente e seguimos com nossos novos amigos. Caminhamos bastante, cruzamos o lindo Gerais do Vieira, e após passar por algumas bifurcações agradeço a deus por ter encontrado estes camaradas, pois realmente não sei se tomaria o caminho correto.



Subimos a ladeira do quebra bunda cruzamos a serra e após horas de caminhada paramos num mirante em frente ao morro branco do Paty, esplêndido a cada passo me sentia mais realizado, chegamos a ruinha ao final da tarde, primeira parada já no vale do paty.



Aproveitamos a noite para confraternizar com os novos amigos.
Amanheço passando mal, exagerei no chocolate, prossigo com muito esforço, pois a diarréia e vomito me deixou completamente moído. Avançamos até a próxima parada um local chamado prefeitura, é noite de réveillon, já me sinto muito melhor e aproveitamos a noite festiva.


Até breve amigos




Novo dia novo ano, Claudinho e seu grupo resolvem seguir por um caminho diferente com a ajuda de um guia, infelizmente não podemos acompanhar, pois pagar um guia estava fora de nossas possibilidades, nos orientamos a respeito do caminho a seguir e continuamos a trilha, enfrentamos a famosa Ladeira do Império é realmente imensa quase duas horas de subida até chegar ao cume e de lá admirar o fabuloso vale do Paty andamos durante todo o dia e vez ou outra me perguntava se estava no caminho certo. Ao final da tarde avistamos a cidade de Andaraí gritos de alegria ecoam, nós abraçamos e gritamos como crianças a sensação de vitória é imensa e vejo dos olhos marejados de Sandro e Ricardo rolarem algumas lágrimas e talvez até dos meus.

Esta viagem foi uma experiência fabulosa, que me levou a conhecer uma pouco mais da natureza humana e ambiental, com certeza você não sairá de lá o mesmo.


Rafael Lauris.










Nenhum comentário:

Postar um comentário